O diabetes mellitus pode trazer complicações em vários órgãos do corpo se não for bem controlado ao longo dos anos. As mais conhecidas são as complicações visuais (retinopatia diabética), renais (nefropatia diabética), circulatórias (macro angiopatia diabética) e as neurológicas (neuropatia diabética). Quando falamos de neuropatia diabética, o primeiro sintoma que nos vem em mente são as dores e formigamentos nos pés, e muitas vezes perda da sensibilidade nos mesmos. O que muitas pessoas não sabem, é que qualquer nervo do corpo pode ser comprometido pelo diabetes não controlado. Nervos que controlam o funcionamento da bexiga (alterando a capacidade de eliminar a urina), dos órgãos genitais como o pênis (levando à disfunção erétil) e dos nervos que controlam todo o funcionamento do sistema digestivo, desde o esôfago, estômago e intestinos.
Quando o sistema digestivo é acometido, os sintomas podem ser os mais variados possíveis: constipação (“intestino preso”), diarreia por proliferação de bactérias intestinais, e sensação de empachamento gástrico após a alimentação. Neste último caso, a pessoa tem a sensação que a digestão fica muito lenta, mesmo comendo alimentos leves e em pequena quantidade. Logicamente sintomas como estes estão presentes em quadros mais avançados, mas a dificuldade ou lentidão com que o estômago se esvazia e libera o alimento digerido para o intestino pode trazer alterações no controle glicêmico.
Quando o estômago se esvazia mais lentamente, consequentemente o alimento demora mais tempo para ser absorvido e, por esse motivo, a glicemia que normalmente se eleva entre 90 a 120 minutos após uma refeição, passa a se elevar tardiamente, com 2 horas e meia, três horas e meia após a alimentação. A medicação de ação ultrarrápida aplicada antes da refeição tem seu efeito máximo (pico de ação) com 2 horas após a aplicação). Nesse momento, como a glicemia ainda não teve toda sua elevação esperada, o paciente pode ate apresentar hipoglicemia, e com 3 horas uma hiperglicemia (hiperglicemia tardia), justamente pela absorção tardia dos nutrientes. Tanto os sintomas gástricos acima descritos quanto as alterações da glicemia mencionadas fazem com que o endocrinologista suspeite do diagnóstico de gastroparesia diabética. Feita a suspeita, existem exames que podem confirmar o diagnóstico, e , a partir daí introduzir o tratamento e estratégias de controle glicêmico visando reduzir a hiperglicemia tardia.